- Tio, me dá um cigarro?)
Perdão.
Perdão por todas as ausências que te
causei,
As refeições que subtraí, os sorrisos
teus
Que arranquei, as esperanças que fiz
mortas.
Perdão por ter te arrancado do útero
Quando tão bem dormias o sono do
anônimo,
Desconhecedor do que te faltaria,
subtraído.
Perdão pelo céu sombrio e as nuvens pesadas,
As mãos sempre estendidas e o olhar
triste,
Ornado de humilhação e medo, de
assombro
Diante do que perto viceja, mas
inalcançável.
Perdão pelos teus dias que se repetem,
frios,
Burocraticamente sem novidades, os
mesmos,
Como se marcados na ausência de
calendários.
Perdão pela dureza das calçadas e
bancos,
Improvisadas e ocasionais camas
estendidas
Sobre olhares de recriminação e
preconceito.
Perdão pelo que te aflige e
descaracteriza,
Reduzindo a este espetro errante e
sujo
Perambulando caminhos descoloridos,
Em manhãs sem sol e sem viço,
Aguardando a noite e a milenar
solidão,
Feita com a indiferença dos
passantes,
Como se não existisses humano,
Mas parte da paisagem que te oprime
E envergonha, envergonhando-me
Diante de ti sem quase nada,
Sorrindo agradecido por um simples
cigarro.
Perdão, meu irmão, perdão.
Francisco Costa
Rio, 22/04/2016.
Bonito demais, caro Francisco costa. Te parabenizo. !!!
ResponderExcluir