Posto que mais nada entre nós,
só matéria de memória e dor,
leve tudo o que não me sobra:
teu cheiro impregnado nos dias,
o olhar, discurso sem palavras,
cada gesto de carícia e encanto,
os passos rápidos no jardim,
entre camélias e madressilvas,
como uma ninfa apunhalada,
em estertores terminais,
anunciando até nunca.
Vergo-me sobre o que fui,
anunciação de versos em luz,
orgia dos sentidos atentos
e todos os membros ocupados,
em oferenda posta a teus pés.
É provável que amanhã
um leitor desavisado
ao ler esse poema
comente: lindo!
Sem saber que aqui jazo,
indiferente e findo,
tateando a melancolia
que um dia foi poesia.
Francisco Costa
Rio, 20/02/2016.
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