Egoisticamente eu me amo
E é amor tanto e tão intenso
Que em mim não cabe,
Espraiando-se em tudo.
Amo-me nas ensolaradas manhãs
De zumbidos e trinados, solares
Anunciações da plenitude da vida,
Onde mais me abasteço de amor.
Por narcísico amor é que me vejo
Na moça que passa apressada,
Sonhando príncipes inexistentes,
Insegura e carente, disfarçada,
Esperando braços e abraços.
Platonicamente me amo longe
No que não sei e não acesso,
Em desconhecidas hipóteses,
Logo redigidas versos e imagens,
Pernoitando-me em êxtase,
Só um menino disfarçado.
Choroso debulhando a impotência
Inundo-me de amor nas carências,
No que se subtraiu criminosamente
E se materializou crianças com fome,
Relentos, refeições de esperanças
No cardápio das impossibilidades.
Amo-me em silenciosos prantos
Nas perfurações de balas baldias,
Semeaduras de abandonos mortos
Ostentando-se nos terrenos vazios,
Câmaras de execuções suburbanas,
Tecendo o terror, a lágrima, o luto,
Matérias primas das manchetes
E comentários de resignação e medo.
Amo-me silenciosamente em canções,
Em orações que só a mim confesso,
Portais que me devolvem à infância,
Estágio na inocência do que viria,
Essa minha louca necessidade de amar.
E se mais não amo é por falta de
tempo,
Tenho que dar provimento às
urgências,
Ao que implica necessidade de
existir,
O que faço com remorso e complexo.
Dói-me comer o que nem todos comem,
E beber do que não sabem, e saber-me
De guarda chuva na tempestade, onde
Se morre molhado, de pneumonia e
frio.
E aí mais me amo, porque compadecido
Da dor que me assola e subtrai, mata,
Na limitação de não mais amor por
tudo,
Porque mais amor em mim não caberia,
Esse infinito e desmedido amor,
louco,
Que choroso escorre na minha poesia.
Francisco Costa
Rio, 12/07/2015.
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