(Pra moça que me reclamou lirismo)
Perdi-me,
Mais não sou agora
Que o teu corpo,
Detalhe natural
Na minha anatomia.
Longe da corrosão da razão,
Reduzido a só instintos,
Habito-me em teu coração.
Livre dos meus tormentos,
Do que me incompleta
E rouba o sorriso,
Flagro-me, sonolento
E distraído, em versos
Escondido.
Sim, eu sou esse,
O que te habita, incontido,
Todo e só coração,
Mas sem poder esconder
Toda a dor que tem na mão.
Por isso nem sempre atendido:
Às vezes peço beijos aos versos,
Mas, rebeldes e realistas, duros,
Negam, dizem-me não.
Entre trincheiras e camas,
Irracionais, os poemas
Não diferem armas e damas,
Romances e dramas,
Sensualidade e pudor,
Lesivos às intenções do autor,
Operário das palavras,
Semeando novas lavras
Ou ceifando o que não plantou.
Entre musas e companheiras
Os poemas se alternam
Em camas e trincheiras,
Imunes às vontades
De quem os criou.
A alma de cada poema
Está nos olhos do leitor.
Francisco Costa
Rio, 19/07/2015.
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