Farsa que a moral suprime,
Mal se sustenta, não redime,
Carcomendo consciências,
Subvertendo a ordem posta
Com cruéis impertinências.
De mim mais não esperem que
passionalidade,
Entrega desmedida e radical, intenso
e total,
Mal contido na individualidade que me
faz um
Quando me quero todos, tudo e mais a
sobra,
Pouco para conter-me em corpo único,
miúdo
Na pretensão de abarcar o mundo, o
universo.
A mim não basta ver a árvore, a sua
arquitetura
De galhos rasgando o espaço, semeando
odores,
Eu quero ser a árvore, magnitude em
dose exata,
Quase anônima, entre árvores outras
perdida,
Comungar a ferocidade do felino
distraído e só,
Entre a contemplação e o bote, em
exatidão
De órbitas planetárias, impávido e
determinado.
Quero-me entre galáxias, assombro luminoso
Espargindo possibilidades insonhadas,
dádiva
Quase etérea, em poeira de estrelas
noturnas
Resplandecendo para estrelas outras, no
mar.
Quero-me mais que este corpo frágil e
tosco,
Enervação que se consome curiosidade
e fome,
Receptáculo de músculos a que deram
nome,
Sonoro, fricativo, ativando-me esse
coração,
Dissonância na aflição que me mantém
cativo.
Mesmo quando distraído, abstraído e
calado,
Chamado, abstenho-me de mim inteiro,
uno,
Para me dividir, diluindo-me, em vã tentativa
De ser o outro, continuidade do meu
corpo
E minhas vontades, das ambições e
dores,
Em atestado que ainda vivo, não estou
morto.
Francisco Costa
Rio, 26/07/2015.
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