quinta-feira, 7 de abril de 2016

EM RESPOSTA

(É coisa séria)

Então dizes que eu brinco com as palavras.
Respeito! Não se brinca com o que se ama.
Palavras são as mulheres que cortejo por aí,
Sempre atento e observando, apaixonado.

Como as mulheres, palavras não se repetem,
Cada qual única, o que fascina e impulsiona,
Fazendo-me volúvel e fácil, abordando-as,
Em compromisso com todas e com nenhuma.

Algumas me seduzem pela sonoridade
Posta nos dígrafos e encontros vocálicos,
Como vozes de fadas em meus ouvidos.

Outras dançam porque ritmadas, cinéticas,
Em passos de acentuações precisas, exatas,
Entre hiatos que soam carícias e canções.

Há as discretas, feitas para coadjuvantes,
Em ditongos nasais, antecedidos de emes,
Enes ou til, quietinhas e muito românticas,
Como meninas que se assustam com o sexo.

E as desaforadas, as rebeldes, barraqueiras
Que aparecem no texto para infernizar,
Poderosas, relativizando todas as outras,
Reduzidas a espectadoras no escândalo,
Mulher madura e senhora de si, ávida,
Pura sensualidade, ainda que não queira,
Exigindo perícia do pobre escrevinhador.

As odientas, que só se anunciam rápidas,
Em ânsias de vômitos, as que não me terão:
Roubo, golpe, corrupção, exploração...
As que rimam com mentira e covardia,
Nascidas para sujar com asco a poesia.

Há as sensuais, nascidas para a luxúria,
E as contidas como freiras e monges,
Excomungando o tesão e o tédio, o cio
Que se oferta vontade que incomoda,
Um cisco no olho, pedrisco no sapato.

Ah! As palavras, essas meninas lindas,
Ornamentos dos meus versos,
Matéria prima dos pensamentos,
Fugitivas dos dicionários e léxicos
Para se instalarem no meu harém
Onde, dedicado servidor do amor,
Eu as amo, uma a uma, como se única.

Francisco Costa

Rio,06/04/2016.

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