Não tenho metades,
Mas muitas partes.
Coabitam em mim os extremos,
Contraditórias contemplações,
Paradoxais querenças,
Antagônicas dores,
Insustentáveis sorrisos
Que vou transformando
Em saladas de letrinhas.
Incólume e integral navego por aí,
Impostura posta na realidade
Que nos contempla sobras,
Sobressaltos, esperas, angústias
Ornamentando o cotidiano,
Ensolarado mar de desejos,
Ambições que logo frustrações
Arranhando fundo os corações.
Divido-me entre o que ora
E o que blasfema, passional
E urgente como aquele jato,
Entre o céu e os girassóis.
Se trago a nostalgia de bandolins,
Canhões também habitam em mim;
Se me quedo nostálgico e doce
Diante da lua boiando nas marés
E na poesia, levanto-me rápido
Se a hora é de protesto e rebeldia.
Nu, vestido apenas de ânsia,
Pronto a violar o corpo amado,
Em violação desejada e consentida,
Sou capaz de inaugurar orgasmos,
Mas também de abrir ferida.
Se um verso enleva e encanta,
Já o outro assusta e espanta.
A vida é assim, hoje rosa no jardim,
Amanhã navalha inaugurando o fim,
Entre estampidos de artifício e
tiros,
Sem que os possamos determinar
Senão na experimentação da dor.
Ora amante no exercício de carícias,
Ora combatente com palavras,
Municio-me crisálida adormecida,
Pronto para me alar borboleta,
Alternando flores rubras de néctar
E não menos rubras flores de sangue,
Em parto de mundo novo e urgente.
Este o meu ofício e a minha sina,
Apontar atalhos e caminhos,
Fazer-me alternativa escriturando
Porque este o destino dos poetas,
Escrever chorando, o que é esquisito:
Poetas choram por escrito.
Francisco Costa
Rio, 10/07/2015.
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