Hoje me queria lírico e doce,
Com as cores desse domingo,
Solar dádiva que se oferece
Aos meus sentidos em êxtase.
Mas logo intempéries interiores
Assomam o meu corpo cansado,
E vem as vergastas de rebeldia,
Os vendavais de inconformismo
Chuviscos de pequenas irritações,
Temporais de revolta e raiva.
Eu não me queria esse que digita
Palavras duras, de pura cobrança,
Mas o outro, o que acaricia,
Digitando peles e músculos,
Com proibidos discursos
Porque ruborizariam, eróticos,
Sensuais, sacanas, escritos
Em corpos e camas.
Sou o que estende sorrisos e gestos
Na passagem das crianças e velhos,
E alisa flores e namora pássaros,
Imune ao que exige a razão,
Reduzido a só coração.
Mas há a impostura estampada,
Diatribes constantes, vozerio
De escusas intenções, as fraudes
Assassinas das verdades, o mito
Da felicidade próxima e urgente.
Eu me queria menino outra vez,
Despido do que aflige e cansa,
Reduz a esse flagelo de domingo,
Sonhando deuses
Mas redigindo infernos,
Os infernos que não queria,
Manchando de raiva a minha poesia.
Consola-me saber que,
Como na canção, um dia
Todo dia poderá ser domingo,
Com os males abandonados
No sábado, dormindo.
Francisco Costa
Rio, 19/07/2015.
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