Poetas,
vós que tendes a lira
e a palavra exata,
a dimensão do universal,
fazendo-vos antenas
de todos os homens.
Poetas,
os descompromissados
no exercício da rebeldia,
deixando-se escorrer
em doídas hemorragias
de lágrimas e palavras.
Poetas,
alter egos dos calados,
inconsciência dos mudos,
passos do errante
nas madrugadas frias,
sem manto e sem acalanto.
Poetas,
gritos coletivos, gemidos
de prazeres e dores
segredadas a ninguém,
como florido vegetal
ostentado no deserto,
na solidão dos ventos,
náufrago em mar de areia.
Poetas,
levantai-vos!
Apartai-vos das musas
e das palavras doces,
do cetro das rimas,
porque o dever vos chama.
Tendes agora e urgente
as vozes ameaçadas,
o risco do silêncio,
o nada adiante.
Os homens maus voltaram.
Urge agora e já
que cada poema mude
e se faça trincheira,
livro aberto
derramando denúncias.
A hora é de luta
para não permitir o luto,
de arregimentar palavras
e usá-las contundentes,
até que a poesia volte.
Francisco Costa
Rio, 22/03/2016.
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