(Ouvindo Scorpions com
a Philarmonica de Berlin)
Porque hoje é sábado,
Escreveu Vinícius de Moraes.
Porque hoje é sábado,
Avisa-me o calendário.
Os sábados são modorrentos,
Displicentes, meio chatos,
A meio caminho
Entre a semana e o domingo,
Indeciso se uma ou outro.
No sábado a semana menstrua
E se quarentenam expectativas
Porque os gols são no domingo
E no domingo o dia de visitas,
Dos abraços e beijos, olhares,
Refeições melhor temperadas,
Dos reatares e rompimentos.
Sábados são pouco propícios,
Neles não residem poemas,
Motivos para revoluções,
Pregões na bolsa e na parede
Porque dias grávidos,
Gestando domingos.
Se chove fica mais sábado,
Dia burocrático e formal
Cumprindo o expediente,
Dando provimento às horas,
Distraído de cada minuto,
Como qualquer servidor
Do que não o motiva,
Mas aporrinha e cansa.
O sábado não tem sexo,
Embora exija artigo masculino
E se adjetive no masculino,
Ao contrário dos dias úteis,
Fêmeas feiras se sucedendo,
De segunda à sexta.
Sábados são dias de shoppings,
Da mercantilização da vida,
Dos sonhos fugidios e loucos,
Da fuga de casa e de si mesmo,
Como se caramujos entediados
Pudessem se livrar das conchas.
Não, definitivamente
Não gosto dos sábados.
São dias apascentados da semana,
Como rês apartada do rebanho,
A caminho do matadouro,
Resignada e triste, na esperança
De que a morte seja um domingo.
Francisco Costa
Rio, 11/07/2015.
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