domingo, 30 de novembro de 2014

O ESTUPRO NOSSO DE CADA DIA

Sem violência, de que viveriam os hipócritas
De plantão, no rádio e na televisão,
Em cotidiano exercício de estudada indignação,
Atentos aos índices de audiência?

Sem sangue, com que alimentar os programas,
Fazer as pontes entre os momentos comerciais,
Vampirescamente alimentando o medo e a raiva,
Preparando o rebanho para o pasto do estupro
Que se anuncia nas ruas e na mídia, em tudo?

Como sensacionalizar sem cadáveres, atrair a si
A atenção, se não houver uma desgraça pronta,
Pelo menos um assalto ou saidinha de banco,
Um furto, qualquer quebra da normalidade?

Mais que epidêmica, a violência é endêmica,
Opção cultural, modus vivendi, motor social
Que produz lucro e cria fortunas, sustenta
Um Estado paralelo mergulhado na pujança
Alimentada no self service da indignidade.

Entre tiros e velórios, soberanos e absolutos
Reinam bandidos e policiais, milicianos,
Advogados, juízes, políticos, jornalistas...
Todos iguais porque com interesses comuns,
Com lugares determinados e específicos
Na hierarquia dos crimes, pão nosso,
Transformando os que os sustentam
Em réus aguardando a execução.

Francisco Costa

Rio, 30/11/2014.

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