quinta-feira, 13 de novembro de 2014

QUASE FINADO

(Me tirar aqui do sítio? Jamais!)

Meu médico, facínora do prazer,
Estabeleceu-me limitações,
Proibições, quase não ter o que fazer.

Abstenção do uso da enxada
E parcimônia no uso das inchadas,
Como se eu fosse me render ao capim
E aos instintos que latejam em mim.

Controle das emoções, nada de zanga,
Fuga do que irrita e provoca instintos,
Desses inconfessáveis, de dilacerar,
Arrancar as tripas, emitir passaporte
Para que o infeliz vá para o inferno.

Sol só com protetor solar
(vou carpir com cobertor, doutor),
E pílulas, drágeas, comprimidos...
Tudo o que for capaz de ser engolido,
Acrescentado de chás, xaropes...
E as malditas injeções, abelhas inúteis
Picando-me os braços e a bunda.

Nada de fazer força ou se cansar
(sexo light e tesão ameno affffff),
Diminuir o número de cigarros,
Dormir pelo menos oito horas
E ficar atento às cicatrizes da cirurgia,
Procurando-o imediatamente
Se intumescer ou avermelhar.

Tantos conselhos...
Só pode ser para justificar a consulta,
Os honorários, a grana alienada da saúde.

Ele poderia ter abreviado tudo:
“Vou lhe manter morto
Para que você permaneça vivo.”

Francisco Costa

Rio, 02/11/2014.

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