quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DUROFÍCIO

Normalmente escrevo chorando
Porque em mim confundem-se
Palavras, realidade, sentimentos...
Fazendo-se concretos nos poemas.

Ora é a mulher inabordável
Porque distante ou indiferente,
Ou próxima e ao alcance, concreta,
Mas incapaz de encarnar poemas.

Às vezes fotografo corpos meninos,
Senhores de compromissos e labuta,
Com dependentes, sonhos, vontades,
Desfazendo-se em sangue e moscas
No reles do chão indiferente,
Aguardando-os para a refeição.

Visito bairros proletários, subúrbios...
As adjacências da morte e da carência,
Onde cultivam o luto e o resguardo,
Se enfeitam, precavidos e dissimulados,
Em álcool, estupefacientes e velórios,
Esperando o milagre da multiplicação.

Cultuo amanheceres e entardeceres,
Namoro a lua e me faço amante do sol.

Tenho haréns de estrelas e flores,
Coleções de insetos e aves baldias
Que ocasionalmente me visitam,
Trinando enlevo no meu canto.

Tem a praia, tem o campo, a paisagem,
O cenário onde me exerço personagem
Passageiro esperando-se eterno,
Simples e só, direto, mas com enigmas,
Como qualquer poema ou texto em prosa,
Entre o signo primeiro, em maiúscula,
E o ponto final, afinal.

Francisco Costa

Rio, 25/08/2014.

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