Reencarnacionista
convicto,
Mais não fiz
nesta existência
Que o
colecionar de essências,
Apartando-as
do comum, trivial,
Para uso
futuro, em outro corpo,
Em
hipotético harém.
De uma tirei
o olhar doce e fácil,
Capaz de
copular com flores
E anunciar
amanheceres de sol.
De outra
arranquei o hálito floral,
De menta e
liptus aromatizando
O que de
tudo em volta, a redor.
Daquela a
voz mansa e o discurso
De paz e
concórdia, misericórdia
Semeando
melhores momentos.
De umas, as
mãos; de outras
Os passos
cadenciados e firmes,
Em ritmo de
madrigais e valsas,
Enluarando
as madrugadas.
Houve as de
ancas fartas,
Com a
malemolência das marés
E a firmeza
do vento nas palmeiras,
Capazes de
inebriar qualquer coisa,
Por mais
alheia e indiferente.
As de coxas
rijas, colunatas de fogo
Sustentando
a leveza dos gestos,
Ora
comedidos, ora suntuosos,
Com a
eloquência do domínio,
Apontando
caminhos de prazeres.
A
intelectual, capaz de se explicar
E se
enunciar inteira, avessa
À
puerilidade do ter com urgência
E do se
desfazer fácil, rápido.
A tranquila,
capaz de pacificar
Conflitos e
intermediar o caos,
Sempre
pronta à nobreza do abraço
E das mãos
estendidas em oferenda.
A laica, ou
de todas as religiões,
Farejando
Deus em todas as coisas,
Nos
episódios cotidianos e normais,
Na
transcendência das galáxias,
No sorriso
do menino pedinte,
Vendendo
laranjas no trânsito
De carros e
homens indiferentes.
Assim,
apartando-as aos pedaços ,
E com eles
fazendo uma única,
Terei um
imenso e dadivoso harém
Em corpo único
e definitivo,
Dando-me a
certeza
De que o
sofrimento nesta vida
Foi de
coleta e catalogação
Para a
próxima, o meu lenitivo,
Quando,
enfim, sempre afetivo,
Descansará o
meu coração.
Francisco
Costa
Rio,
06/09/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário