(Em resposta
a uma amiga)
Estranhas
que eu viva só, num sítio.
Num sítio,
sim. Sozinho não.
Eu tenho
plantas,
As quais
conheço pelos nomes,
Os
científicos e os que lhes dei,
Íntimas e
amigas como poucos.
Tenho
pássaros, lagartos, borboletas...
Guardando
com eles alguma intimidade,
O mesmo
relacionamento que guardei,
Um dia, com
os homens: alguns piam, gritam,
Coaxam
longe, em chegadas só ocasionais,
Outros
tutelaram-me, morando nas varandas.
E tenho a
memória, amiga tão íntima
Que se
confunde comigo, em corpo único:
Basta que
uma música salte do equipamento,
Ou de algum
instrumento, e lá vou eu.
Quando Gil
diz “ainda me lembro
Da gente
sentado ali, na grama do aterro...”
Lembro que
eu também estava lá e, agora, aqui.
Antes, no aterro;
agora, na canção.
Vê como não
sou só?
Minha
memória me traz um harém,
Todas as que
se desviaram do curso
E fizeram
baldeação no meu corpo.
E mesmo as
que não fizeram, só deixaram hálitos,
Olhares,
timbres de vozes... Geraram incógnitas:
Como seriam
se, nuas, completas, integrais,
Sobrenadando
em hormônios, línguas e dentes,
Reduzidas à
busca da superação no próprio prazer?
Isso me dá
muita matéria para me fazer acompanhar.
Vê? Não sou
só. Além da memória há a imaginação.
Mesmo o vento que passa por aqui,
O pedaço da
lua que ilumina o sítio, os raios do sol
Que aqui não
se refletem, ficando, são meus,
Estão
comigo, em atestado de que não estou só.
Por fim há a
minha poesia, o olhar diferenciado
Que faz todo
o acontecido em por acontecer,
Deixando-me
ansioso, cheio de esperanças,
Contabilizando
os minutos de espera em versos.
Entende que
não sou só? Embora sozinho,
Habito-me
numa multidão, sendo parte dela,
Toda ela uma
extensão de mim, distraído,
Conversando
com uma flor no jardim.
Francisco
Costa
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