Quando eu já
não estiver aqui,
Privando da
convivência e dos dias,
As manhãs
continuarão ensolaradas
E os
banhistas irão às praias, mas eu,
Ausência
compulsória e definitiva,
Permanecerei
alheio ao trânsito,
Distante das
cortes de Espanha
E Lisboa, do
Império Britânico
Em guerra
nos livros de história.
A moça que
me experimentou gemidos
Estará
propensa a novas cortes,
Em trânsito
entre o remoto distante
E as
próximas primaveras e verões,
Acessível a
novos varões e mais gemidos.
Meus pertences
serão distribuídos:
Essa coleção
de autores marxistas
Para o rapaz
taciturno e apreensivo,
Semeando
revoltas e revoluções;
Esses
tratados de Astronomia e Física
Para algum
colecionador de estrelas
Que,
impossibilitado de caçá-las
As corteja
pelos poéticos nomes:
Sírius,
Cassiopeia, Aldebarã... Viúvas
De noivo que
as namorava nas noites;
Os tratados
de ufologia e esoterismo
Habitarão as
prateleiras e estantes
De algum
ente estranho e engraçado,
Capaz de
conversar com insetos
E pastorear
rebanhos de nuvens;
Os
compêndios de Botânica e Zoologia
Desafiarão a
dicção do dedicado aficcionado
Soletrando
Pastrongilus megistrus,
Carassius
auratus e Mellos psitacus
Ornamentando
as páginas com cores e formas;
Os
dicionários... Distribuam a lanço,
O de rimas e o de tupi-guarani, o de francês,
Inglês,
espanhol... Os vários de português...
Porque casa
sem um bom dicionário
É granito
com pretensão de diamante.
Distribuídos
os livros, é a vez dos discos,
De
retalharem a trilha sonora da minha existência,
Sem critérios
e complacência, em holocausto
Do que em
mim foi anexo, embora comigo,
Como um
farol sonoro clareando o caminho.
Depois
minhas roupas e os meus odores,
Os poucos
móveis e os utensílios do atelier.
Saquearão o
meu jardim, é certo, à cata
Dos enxertos
e hibridações que segredei como fiz,
Em paciência
e dedicação de monge ocupado.
Meus quadros
e esculturas irão a leilão diferente,
Sem lances
pecuniários, mas de exigências e gritos,
Para
ornamentar paredes de parentes e amigos.
Assim,
desfeito o palco da minha performance,
O picadeiro
onde me ensaiei no que gostava,
Cenário do
monólogo que quis diálogo,
Estarei
finalmente apagado aqui, disperso,
Começando
tudo de novo,
Em paciente
repetição,
Mas com o
mesmo coração
Palpitando ainda
em algum canto do universo.
Francisco
Costa
Rio,
23/08/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário