Hoje
despi-me do provável
E estive no
limbo da poesia,
Descartado
da minha porção normal,
Entre homens
maiores, gigantes,
De anatomia
diferenciada,
Com olhos
hipertrofiados,
Ouvidos
atentos a tudo
E enormes
corações.
Bonachão, com
um copo de uísque na mão,
Vinícius
pronunciava diminutivos precisos
Para
Drummond, como sempre sério,
Talvez
imaginando um diálogo impossível
Com Pessoa,
outro que desvirtuou tudo,
Colocou a
boca nos dedos, falando com tinta.
Mais atrás,
Maiakowsky e Lorca exaltados,
Em
conspiração permanente, ouvindo
Neruda e seu
barrigão de digerir poemas.
Em torno da
mesa de doces e infância,
Quintana
brincava com um aviãozinho de papel,
Sob os
olhares atentos de Bandeira e Osvald
Mastigando
qualquer coisa indefinível.
Mais adiante
as mulheres fofocando:
Cecília
Meireles, Gabriela Mistral,
Florbela
Spanca, Cora Coralina...
E o assunto
era a essência do belo
E como com
ele contaminar o mundo.
Pareceu-me
ser uma festa de pompa,
Um evento de
rara magnitude,
Para receber
alguém importante,
Digno de
ambiente tão restrito.
Súbito
fez-se silêncio de acordar estrelas,
Tom Jobim
apagou o charuto,
Sentou-se ao
piano
Teclou o
primeiro acorde,
E Manoel de
Barros entrou.
E acordei,
penetra em festa alheia,
Sem convite
e sem méritos, pensando:
- Puxa,
pensei que eu é que tivesse nascido!
Francisco
Costa
Rio,
14/11/2014.
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