quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A COR DO AMOR

Fosse eu vidente,
Com olhos próprios ao invisível
Que se esconde tão perto,
De que cor veria o amor?

Seria azul, como na canção,
Repetindo o oceano nas manhãs de domingos,
O céu, quando as nuvens estão de folga,
Em recesso, longe, chovendo em outro lugar?

Seria verde, como as plantas que me colorem,
A esperança (porque se convencionou isso?),
O gafanhoto faminto que me irrita na horta?

Ou talvez amarelo, solar luminescência
Estendida sobre todas as coisas criadas,
Áureo, de incomum preciosidade estampada,
Luzidio e brilhante na coroa de cada homem,
Nobreza amputada no patíbulo do poder?

Quem sabe vermelho, ígneo, sanguíneo,
Pulsátil e quente como um coração alegre,
Pendulando vontades num peito apaixonado?

Lilás, como aquela tímida e humilde violeta,
Pingo de luz que se esparrama na manhã?

Mas chega de divagar sem nexo, poeta!
O amor não tem cor nenhuma, é incolor,
Transparente, bastando-se na energia
Que irradia e emana, justamente para fugir
Dos preconceitos e se fazer a única alternativa
Para a condição humana.

Francisco Costa

Rio, 19/11/2014.

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