quarta-feira, 14 de agosto de 2013

IMORALIDADE

Só almas e ossos,
Concretude de carências,
Eles insistem,
Quase sobrenaturais,
Na teimosia de viver.

Nunca lhes disseram
Que uma entrada de cinema,
Uma única, lhes aliviaria
A morte por mais alguns dias.

Também nada foi dito
Sobre o orçamento das armas.

Neles, a fome, mais que ocasional,
É modo de vida, cotidiano,
Destino certo e irremediável.

Não choro por esses meninos.
Choro por nós nos shoppings,
Em culto ao consumismo,
Descartando o que mataria fomes.

Nas igrejas, agradecendo
Graça alcançada, o carro novo,
A nova empregada,
A própria salvação,

Alheios e imunes, cúmplices
Da fome que fabrica anjos
E perpetua a indiferença.

Sorte nossa que não choram
Nem pedem, nos incomodariam.

Talvez orem, acreditando
Que só no paraíso existe comida.

Francisco Costa

Rio, 13/08/2013.

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