sexta-feira, 23 de agosto de 2013

LIXÃO

Nesta paisagem sombria e fétida,
Monturo de lixo, dejeto do posto
Em ostentação consumista,
Como vermes em profusão
Em matéria pútrida, em decomposição,
Homens e mulheres, crianças,
Farejam a própria refeição.

Um pedaço de plástico aqui,
Alumínio e vidro ali, papelão,
Vão catando o reciclável, para devolver
À sociedade que os têm como exceção.

Desafio à ciência, simbiontam
Micróbios teoricamente fatais,
Imunes, lapidando o cotidiano.

Entre urubus e ratos, como ratos
Cavam trincheiras para uma batalha
Que não começou.

Há neles corpos vazios
E almas contaminadas
Pacientemente aguardando
A safra do que plantam no lixo.

Só pensam revoluções
Os que têm nada a perder.

Desatentos ao futuro,
Outros jogam sobre eles
O resto que será essência
O predicado que será sujeito,
Transformando o lixão em jardim.

Dormita ainda distraída a história,
Mas um dia acordará.

Francisco Costa
Rio, 22/08/2013.


*Lixão é como chamamos, no Brasil, os aterros sanitários, onde milhares de famílias catam material reciclável e restos de comida.

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