sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A SALA DA UTOPIA

Alucinadamente bêbado por contradições,
Alterno-me em olhares díspares, manietados
Com as cordas da insensatez e da loucura.

Percorro agora os corredores do museu humano,
As entranhas de suas vilosidades cerebrais
E me encanto diante de Da Vinci e Kandinsky,
Perdido na sã insanidade de Van Gogh, nos azuis
De Picasso envergonhado de Guernica e Franco.

Na sala ao lado prédios flutuam em desafio
À gravidade e à inventividade humana, Niemayer
Escondendo vigas e colunas, na prestidigitação
Da magia em concreto e vidro. Adiante, distraído,
Le Corbusier e os anônimos das Pirâmides,
Em precisões matemáticas de assombro incontido,
Bombardeados por Cruzadas, Inquisições, Reichs,
OTANs e tudo o que for de matar e ferir.

No fim do corredor, Rimbaud e Pessoa fumam
O cachimbo do chefe Txucarramae, talvez Tupi,
De braços estendidos a Stanislawsky e Neruda,
Enquanto incêndios irrompem, não seletivos,
Devorando livros, obras de arte, leis, vidas,
Em holocausto ao comércio e às religiões.

Por fim a última sala, a de porta única,
Só de entrada, vazia, oca, sem saída,
Encarcerada em si mesma, com um letreiro:
Aqui ficaria a sensatez, o amor ao próximo,
O respeito, a honestidade, a bondade,
A justiça, a saciedade, o homem integral.

Perdoe-nos a falha no acervo.
Ainda não encontramos nada assim,
Ou pelo menos que se assemelhasse.

Francisco Costa

Rio, 30/08/2013.

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