Ela é uma
puta, só uma puta, não mais.
Pasto para
repasto de todos, não mais.
De carnes
devidamente tarifadas
E sexo
cronometrado, é desaguadouro
De
instintos, talvez necessidades
Que
perambulam libidos e camas.
Execrável
porque exemplo de pior estirpe,
Quase delito
inscrito em pouca roupa
E maquiagem,
talvez disfarce, esconderijo.
Ontem
resolvi seguir a puta.
Curioso do
humano, do que se esconde
Onde colam
rótulos, resolvi seguir a puta,
Descobrir em
que meandros palmilha
As horas
fora do expediente.
Ela
despediu-se das amigas,
Parceiras e
concorrentes nas calçadas,
E se
encaminhou para o terminal dos ônibus.
Desceu em
subúrbio onde mora a miséria
E a morte
faz incursões diárias
Para
casamentos continuados,
Com a aids,
as diarréias, as balas perdidas.
Entrou no
supermercado, ar de preocupada,
E saiu com
duas bolsas, materialização
De gemidos,
obscenidades, esperma e cio
Em comida,
material de limpeza e outros.
Caminhou bom
pedaço de muitos metros
E chegou em
casa, atravessando a porta.
Não bastou.
Incursão interrompida
É só
passeio, não se justifica.
Era preciso
eu saber mais, ver mais,
E
sorrateiramente caminhei para a janela.
Em redor da
puta crianças brincavam,
Felizes,
vasculhando as bolsas,
Farejando
novidades para os paladares.
Numa
poltrona rasgada, toda manchada,
Em trajes
domésticos e não maquiada,
A puta tinha
no colo uma contradição,
Talvez fruto
de um amor proibido
Ou distração
na hora em que trabalhava.
Doce e
despida do rótulo,
Absolutamente
doméstica,
Longe dos
clientes e das calçadas,
Uma mãe
amamentava.
Francisco
Costa
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