sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MAIS UMA CONTA NO ROSÁRIO

Já acordo pronto ao poema,
Talvez em contraponto à sabiá
Que me assobia na janela.

Que reserva pra mim o dia hoje?
Indignação e  raiva no sangue
Que jorrará no oriente, mesclado
Em petróleo e dólares?

Dada a idade e as dores,
Será meu dia último,
Entre sorrisos e versos,
O ponto final em um poema
Pouco rimado porque quebrado,
Inconstante e passional?

Virá hoje a mulher esperada,
A que procurei em cada corpo
E em nenhum corpo estava?

Haverá conjugação de corpos outros,
Estelares, siderais, distantes e belos,
Em atestado à minha própria pequenez,
E os meus netos correrão na grama,
Semeando gritos e gargalhadas,
Inocentes dos amiguinhos sírios?

Levanto-me, espreguiço-me lento,
Pondo os músculos em alerta máximo,
Vou ao espelho, para o ritual diário
Da higiene matinal e... Mais uma ruga,
Presente do mundo, atestado de vida.

Bom dia, sol; bom dia, fauna;
Bom dia, flora; bom dia, amigos.

A primavera mandou avisar
Que vem mesmo.

Francisco Costa

Rio, 30/08/2013.

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