sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PERDÃO, MEU FILHO

Sabe aquele prédio, argamassa e caos
Compondo a geometria da cidade?
Ali havia um campinho de futebol,
Onde machucávamos os pés descalços,
Em cacos de vidro e topadas, fazendo gols.

Sabe aquela fábrica de fuligem e fumaça,
A que engole operários e cospe coisas?
Ali era uma lagoa, banhávamos nus,
Quando não pescávamos piabas e acarás.

Sabe aquela praça onde se perdem balas
E se encontra a morte e o sangue, a dor?
Lá era o carnaval das máscaras e blocos,
Das meninas com as pernas de fora,
Da ingenuidade sambado alegria.

Sabe aquela igreja? O deus que morava ali
Não castigava, não matava, não nos fazia
Termos culpas nem complexos, receios,
Por sermos sexuados e estarmos vivos.

Era um deus de amor e justiça, pelos atos
Cometidos por nós, e não pelas intenções.
Ah! Tão tosco e distante o diabo e seus anjos
Naquela época,  nem nos lembrávamos dele,
Que agora reina e vigia, induz, determina,
Com quase tanto poder quanto os de Deus.

Perdão, meu filho.
Vai brincar de game,
Logo mais tem funk.

Francisco Costa

Rio, 16/08/2013.

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