1ª estação:
E ligado na
tela da tevê
Viu corpos
esquálidos
Desfeitos em
fome
E medo, em
desidratação.
2ª estação:
E atento às
letras do jornal,
Viu
cadáveres nas calçadas,
Alcançados
por balas perdidas
E encontradas,
desencontradas,
Fazendo frêmito
e frio, fim.
3ª estação:
E tomou
banho, e perfumou-se,
Ornando-se
na roupa mais bela
Estampada na
vitrine do shopping
e se
encaminhou para o lanche.
4ª estação:
Entre
laticínios e frutas, sucos e chás,
Perdeu-se em
dúvidas gastronômicas,
Pronto aos
talheres e à saciedade,
À obesidade
sem remorsos.
5ª estação:
Foi ao
banco, antes, constatar depósitos,
Juros
amealhados, debêntures,
Lucratividade
das operações monetárias,
Promovendo a
paz de espírito
E a promessa
de dias iguais.
6ª estação:
Passou por
uma família na sarjeta,
Mãos
estendidas ao que fosse possível,
Em
humilhação e carência, desdita
De
parcimônia nenhuma no precisar.
7ª estação:
Viu um velho
em trapos, farrapos,
De mãos
estendidas, ansiando
Sopa quente
e família, um leito
De abrigo ao
frio e bálsamo urgente
Para dores
num corpo de prazo vencido.
8ª estação:
Avistou um
adolescente em agonia química,
Viajando
imagens inexistentes
E vazios
existenciais, pavimentando as ruas
Do
manicômio, da cadeia, do necrotério.
9ª estação:
Viu bêbados
desprovidos de fígado e peso,
Flutuando
aquém da gravidade e do mundo,
Prostitutas
meninas em oferta no mercado,
E não ouviu
os sons doentes da humanidade,
Surdo ao que
lacera e abate, fustiga e mata.
10ª estação:
Entrou na
igreja, respirou fundo,
Entoou
salmos, levantou os braços
E agradeceu
a graça alcançada,
Aquele carro
novo na garagem.
Aleluia!
Francisco
Costa
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