quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ECUMENISMO

Acaso não te ocorre que o teu amor à divindade
É exatamente o mesmo amor do semelhante
De outra religião diferente, de outra denominação?

Que pureza de propósitos e honestidade de princípios
Se repetem em mesma intensidade,
Com a mesma certeza e a mesma dedicação?

Já paraste pra pensar que o que os divide
Não é o texto, mas a interpretação
E toda interpretação é ideológica,
Cercada de influências, espelho do momento histórico?

Estás pronto ao sacrifício pela tua causa?
O teu semelhante também.
És firme e decidido na devoção?
O teu semelhante também.
Queres partilhar tua doutrina, pela absoluta veracidade
Dos seus princípios e ritos e iniciativas?
O teu semelhante também.

Carregas o orgulho de estar com Deus,
Ele também.
Julgas teres encontrado a verdade que te libertará,
Ele também, a mesma certeza.

Quantas guerras por causa de substantivos impressos,
Adjetivos de análise vária, preconceitos erigidos verdades.
Quanto sangue derramado em nome de Deus!

Pela mesma fé com que criticas e rejeitas,
Bin Laden lançou aviões sobre inocentes,
Satanizados por serem de religião diferente.

Eles se acreditam em guerra contigo,
Tu te acreditas em guerra com eles,
Uma guerra que se desenrola desde as cavernas,
Sem vencidos nem vencedores, só vítimas,
Para as quais sim, chegaram armagedons,
Apocalipses, finais de tempos, barbaridades.

Cada geração que chega, chega certa de testemunhar
E vai embora em apocalipse particular,
Tendo esperado em vão, com a mesma certeza
Das gerações que a antecederam.

Estás certo da intimidade com o divino
Que te habita e assiste, orienta e protege,
A mesma absoluta certeza do teu semelhante.

Hoje, quando eu chegar em casa,
Todos os meus filhos acorrerão a meu colo,
E cada um se julgará o mais amado por mim,
E cada um se acreditará o que mais me entende,
E brigarão entre si, para ocupar lugares,
E me rirei diante de tanta inocência.

Francisco Costa

Rio, 15/08/2013.

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