quinta-feira, 8 de agosto de 2013

MUITO PUTO

Amanheci brega, e quando amanheço assim
Torno-me íntimo das sarjetas, dos bares,
De casais dançando tango em luz vermelha,
Cravo na lapela, sobre o calejado coração.

Em dias tortos as mulheres se colorem e,
Monumentos de cosméticos e olhares,
Destilam cores e promessas nos versos
Que pacientemente vou colorindo no papel.

Eu me quero brega, com um copo na mão,
Vivendo surreais sonhos de sorrisos,
Apascentando as minhas paixões, discursando
Para os pombos na praça, para o mendigos
Que dormem nas portas dos bancos,
Dos restaurantes, das casas de câmbio.

Eu me quero insano, voando sobre os prédios,
Mijando no poste, alisando cães vadios,
Oferecendo-me arroto na refeição alheia,
Erigindo-me insulto ao que julgam sensato.

Chega de estar enquadrado, bem adaptado,
Distribuindo condolências com ar de riso,
Abraçando com um canivete na mão.

Basta de cultivar comedimento,
Ilustrar os dias com boas maneiras,
Portar-se menino bem educado,
Esconder o próprio pau com fome.

Acordei pelo avesso
E pelo avesso derreto-me.

O michê da dor é a revolta.

Francisco Costa

Rio, 08/08/2013.

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