quarta-feira, 14 de agosto de 2013

PAR DE CHINELOS

Hoje amanheceu uma par de chinelos em minha sala.
Ontem, sobre eles, calçando-os, havia uma mulher.
Esperei-a em ritual de amante em trânsito para o dia:
Espanei os móveis, varri o chão, acendi incenso,
Sândalo, em projeto de subliminar indução ao sexo.

Chegou etérea, vaporosa, com a leveza tensa e doce
Da que, prestes à consumação da que em si aguarda
Posse definitiva, ocupação permanente, delírios,
Não se basta em corpo só, terminado na própria pele.

Depois se foi, deixando seu cheiro sobre o sândalo
E suas digitais escritas em mim, atestando saudade.

Entre o ontem e um dia talvez, um par de chinelos
Aguarda a inquilina no chão da minha sala.

Francisco Costa

Rio, 12/08/2013.

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