sábado, 15 de junho de 2013

RECADINHO A SANTO ANTONIO

A vós, que sois santo casamenteiro, solicito
Atenção redobrada em vosso dia.
Permanecei atento a corações solitários,
Aos que purgam a dor da solidão e da espera,
Ensimesmaram-se em vazios e escuros,
Mas sabedores de que adiante, logo ali,
Há preenchimento e luz, na forma de corpos.

Lembrai da moça triste na sacada, entre cortinas
Esperando intervalos nos dias que se repetem,
E das que sentadas em bancos de jardins
Sonham príncipes fugitivos de livros infantis.

Lembrai das que se desfazem em hormônios,
Em calores e arrepios, gemeres para ninguém,
Em parcimônia e segredo, ostentando-se sós
Em camas imensas, sem partilhas e gozos.

Lembrai das equivocadas, quase antinaturais,
De sexos trancados em igrejas e templos,
Latejando em si pecados inexistentes e culpas
Nascidas do equívoco e da preconceituação,
Como se possível alienar parte de si para fora.

Lembrai das de sexo desenfreado e constante,
Alternando parceiros, invalidando olhares
E pouco se dando aos beijos, porque tudo no sexo,
Sujeito de suas existências, alienadas a momentos.

Lembrai das de sorrisos infantis, mal sabedoras
De que o futuro as aguarda mulheres, receptáculos
De sonhos que se farão luz ou morrerão solitários,
Tragados por vendavais e borrascas, temporais.

Das que acenando adeuses e ouvindo até nunca
Trancaram-se em só memória do irrepetível,
Esperando anjos mortos, enterrados no passado,
E das que, emprestadas, esperam posse definitiva.

Das que doam o corpo enquanto o pensamento
Viaja, sonhando outros braços e outras palavras,
Em vidas pela metade, ancoradas no que não querem,
E das que se permitem só por medo e insegurança,
Inseguras de próximos passos e entregas novas.

Das que, em viagens virtuais, sentadas em cadeiras
Imaginam-se em colos, acariciando acariciadas,
Vivendo só parte porque de corações migrados,
Exportados para muito além do monitor,
E das que mandam mensagem de SOS em poemas,
E se põem inteiras ao alcance de leitores distraídos.

Lembrai de todas, meu santo de predileção.
Atentai porque ainda estão esperando.
Atentai! Porque ninguém pode chegar ao paraíso
Sem histórias para contar.
Não se chega a paraísos chorando.

Francisco Costa.

Rio 13/06/2013.

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