Quando eu já
não estiver aqui, mas em você
pensando em
mim, trata de não chorar.
Lembra que
fiz dos risos atividade permanente,
em
constantes sacanagens. Não me decepcione.
Reduzido à
referências dadas pelos filhos,
fotos
envelhecendo, versos abandonados,
cuida para
que eu permaneça acordado,
atento a
Cindy Lauper cantando True Collors
ou Kenny G
assoprando Going Home em você.
Por doze
anos foi o prefixo do meu programa,
criando
identidade tamanha que nos tornamos
parceiros,
ele com o talento, eu, com a audição,
em
intimidade tanta que mudou o meu coração,
batendo
delicado ao som dessa canção.
Grita
dobrado em cada gol do Fluminense,
triplicado
em cada gol da seleção.
Não deixem o
capim invadir o jardim,
não gosto de
rosas zangadas, dálias furiosas,
porque
feitas para as cores e os aromas,
para
ornamentar cópulas de colibris e borboletas
em dança
nupcial, como eu dancei quando aqui.
Quanto ao
patrimônio, empresa, casas, carro
sítio,
terrenos... Me é indiferente o destino.
Só peço que
me repitam: sentindo a velhice
abordando,
se insinuando como uma paixão
definitiva,
sem possibilidade de se desvencilhar,
abandona
tudo, dá as costas, passa aos filhos,
para não
morrerem mordendo paredes e cercas,
executando
macabra canção de cansaço e tédio
num monetário
teclado de cédulas e moedas.
Isso é já
estar morto por antecipação.
Faz como eu,
busca o refúgio da arte e da natureza,
se isola em
meditação, para reviver sorrisos
e permitir a
ressurreição de remorsos, purgando,
rasgando, devolvendo
a individualidade perdida.
Por fim,
deposita em meu filho caçula todo o esforço,
para que
nada lhe falte, os outros já andam sozinhos.
E nada de
mentiras com o menino, do tipo Deus levou,
está no céu,
virou estrela, foi fazer uma longa viagem.
Digam-lhe a
verdade, com todos os fonemas:
seu pai
levou tão a sério o ofício que fez o sacrifício
de se tornar
um poema.
Francisco
Costa
Rio, (data
em que eu morrer).
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