Façamos o
seguinte, então:
você deixa o
seu salário comigo,
e vá pegando
aos poucos,
de acordo
com as suas necessidades.
Enquanto
estiver em meu poder
eu
emprestarei a dez por cento ao mês,
sem nenhuma
compensação para você.
Necessitando
sacar, quando precisar,
lhe venderei
um bloquinho de papel,
ao que
chamam talonário de cheques.
Se não for
usar o salário todo, invista,
emprestando-me
pelo prazo que eu determinar,
e lhe
pagarei um e meio por cento ao mês,
emprestando
a dez por cento, claro.
Não se perca
nas contas, mantenha-se atento
porque a
cada vez que você quiser informações,
de quanto
ainda tem comigo, lhe cobrarei.
Pode ser
também que eu não empreste no varejo,
a
particulares, como você, dinheiro pouco
e sem a
certeza do recebimento no prazo aprazado,
quando,
recorrendo às leis vigentes, protegido,
cobrarei
juros sobre juros, custeio de processo,
correções,
emolumentos, taxa de inadimplência...
Vendo-me
obrigado a confiscar o seu patrimônio,
sem dó nem
piedade, sem medir consequências.
Aí emprestarei ao governo,
diretamente.
Após a
divisão entre políticos, empreiteiros
e todos os
intermediários, sobrará uma parte, sua,
que
financiará a produção: o que comes, bebes,
vestes...
Enfim, consomes, compulsoriamente.
Claro que os
juros, os custos dos financiamentos
estarão
embutidos nos preços que pagarás,
quando em
atividade de compra nos mercados,
criando uma
situação deveras interessante:
Você pagará
a mim os juros e custos do dinheiro
que deixou
comigo. Elementar, não, meu caro?
Esclarecendo:
você empresta a você mesmo e
me paga os
juros. Não reclame. Lei de mercado.
O risco no
meu negócio? Zero.
Ao contrário
dos donos de escolas e hospitais,
de pequenas
lojinhas das periferias urbanas,
por exercer
atividade essencial, não pago impostos.
Segundo: se
eu me mostrar incompetente e leviano,
emprestando
mais do que captar, em estelionato,
o governo me
socorrerá, recorrendo a outros,
como eu,
tomadores de salários, bens e produção,
ou recorrerá
ao próprio caixa, desviando legalmente
do orçamento
da saúde, infrestrutura, educação.
Pode ser
também que o rombo seja muito grande,
fruto de
desonestidade ou crise financeira geral,
provocando
inadimplência em cascata, de todos.
Aí o governo
recorre aos organismos internacionais:
faz
empréstimos e me repassa, subsidiado.
Não
entendeu, parvo? Emprestar subsidiado
é emprestar
cobrando juros menores do que custou;
pegar a
cinco por cento e emprestar a dois por cento,
com prazo de
vinte anos para pagar, e carência de dez.
Não entendeu
novamente? Enquanto te empresto
por noventa
ou cento e vinte dias, eles me dão
vinte anos,
com mais dez, trinta, se eu quiser.
Quem paga a
diferença do juro subsidiado?
Você, claro,
diretamente, nas lojas e mercados,
embutido nos
preços das mercadorias,
ou
indiretamente, lastimando a falta de escolas,
as filas nos
hospitais, as ruas esburacadas, a inflação.
Entende
porque pego o seu dinheiro sem pagar nada?
Não, não é
roubo. O nome disso é captação.
Entende
porque empresto a juros? Não, não é roubo.
O nome disso
é spread. Bonito, não?
Eu poderia
ser igual a outros, colocar uma arma na mão
e dizer: “não
adianta, perdeu. Isso é um assalto”. Mas,
ao
contrário, anuncio o assalto no rádio e na televisão,
em belos
anúncios de belos carrões, belas casas...
Essas coisas
que você jamais terá, não deixarei.
No dia em
que todo mundo tiver não empresto mais,
não sou
bobo.
E não me
chame de ladrão! Sou banqueiro!
Bem sucedido
empresário do sistema financeiro!
E se ficou
indignado, nem pense em reação:
greves,
passeatas... Movimentos sociais.
Eu ponho a
polícia atrás. Afinal,
você a
sustenta pra isso.
Francisco
Costa
Rio,
04/04/2013.
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