Um casal de
pombos silvestres,
tendo o
mundo todo a disposição,
elegeu meus
olhos testemunhas
da natureza
em trânsito:
aninharam-se
em uma mangueira
exatamente
ao lado da minha janela.
Bisbilhoteiro
do que se anuncia belo,
acompanhei
toas as idas e vindas,
gravetos nos
bicos, penas arrancadas,
para a
confecção do ninho, berço
de novas
pombas para enfeitar os dias.
Acompanhei
todos os beijinhos,
bicos e
línguas em arrepios de penas,
até a
chegada dos dois ovinhos.
Indiferente
ao sol abrasador,
às chuvas
constantes, ao vento,
por duas
semanas em gravidez de aves,
a pombinha
permaneceu agachada,
ocasionalmente
substituída pelo marido,
quando saía
para comer e beber água.
Em parto sem
dor, feito só de cansaço,
as cascas
romperam-se em liberdade
a dois pombinhos
novos, sem penas,
olhinhos
fechados, de poucos instintos.
Alimentados
em quase continuidade,
dobraram de
peso, triplicaram o peso,
ansiando-se
imagens e semelhanças
dos pais em
afã de continuidade nelas,
duas
pobinhas crianças na minha janela.
Ontem, um
bando de anus brancos,
repetindo
salteadores de caravanas
e políticos
sem coração, só de bolsos,
atacou o
ninho, feriu as pombas
e comeu os
pombinhos.
Explodem
estrelas e galáxias,
desfazem-se
átomos
em mini explosões,
entredevora-se
a fauna,
entredevoram-se
os homens...
E questionei
os propósitos de Deus
fazendo da
violência e da força
os agentes
motores da criação.
Uma voz
secreta, sonada em surdina
Chamou-me à
razão: evolução!
Francisco
Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário