sexta-feira, 28 de junho de 2013

Um casal de pombos silvestres,
tendo o mundo todo a disposição,
elegeu meus olhos testemunhas
da natureza em trânsito:
aninharam-se em uma mangueira
exatamente ao lado da minha janela.

Bisbilhoteiro do que se anuncia belo,
acompanhei toas as idas e vindas,
gravetos nos bicos, penas arrancadas,
para a confecção do ninho, berço
de novas pombas para enfeitar os dias.

Acompanhei todos os beijinhos,
bicos e línguas em arrepios de penas,
até a chegada dos dois ovinhos.

Indiferente ao sol abrasador,
às chuvas constantes, ao vento,
por duas semanas em gravidez de aves,
a pombinha permaneceu agachada,
ocasionalmente substituída pelo marido,
quando saía para comer e beber água.

Em parto sem dor, feito só de cansaço,
as cascas romperam-se em liberdade
a dois pombinhos novos, sem penas,
olhinhos fechados, de poucos instintos.

Alimentados em quase continuidade,
dobraram de peso, triplicaram o peso,
ansiando-se imagens e semelhanças
dos pais em afã de continuidade nelas,
duas pobinhas crianças na minha janela.

Ontem, um bando de anus brancos,
repetindo salteadores de caravanas
e políticos sem coração, só de bolsos,
atacou o ninho, feriu as pombas
e comeu os pombinhos.

Explodem estrelas e galáxias,
desfazem-se átomos
 em mini explosões,
entredevora-se a fauna,
entredevoram-se os homens...

E questionei os propósitos de Deus
fazendo da violência e da força
os agentes motores da criação.

Uma voz secreta, sonada em surdina
Chamou-me à razão: evolução!

Francisco Costa

Rio, 18/04/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário