Não sei
gozar, esqueci.
Meus
orgasmos são falsos,
Fingidos,
teatrais, estelionatados.
Vendo-me
como carne no sepo.
À mostra na
vitrine do balcão,
Examinada
com o distanciamento do cliente
Em busca do
objeto de uso imediato e descartável.
Meus dias,
conto-os em homens,
Meu
calendário é descolorido e triste,
Feito de
dias iguais e noites comuns,
Onde a
novidade é mais uma moeda.
Tive
infância, claro, entre bonecas e panelinhas,
Estágio para
a maternidade e o gerenciamento doméstico,
Mas a vida
me impôs a escuridão e o silêncio,
A ausência
de qualquer coisa dita a mim.
Só falam ao
meu corpo, só dizem do meu corpo,
Entidade
única apartada de mim, deixando-me só,
Perambulando
pelas ruas de acidentes e percalços.
Mas dentro
de mim, sobrevive ainda o que não explico,
Sinto: um
cavalheiro mais que sexuado, humano,
Que me tome
pelas mãos e me leve por aí,
Talvez para
sempre, para dançar boleros e tangos na sala,
Enquanto o
aguardo cansado, extenuado de compromissos
Para me
sustentar. E aí, aluna atenta ao que mereço e preciso,
Reaprenderei
dos orgasmos e gemidos honestos,
Serei puta
de um homem só e, cercada de filhos e sorrisos,
Mais que um
corpo no mercado trocando homens por lágrimas,
Terei me
reinaugurado mulher, finalmente...
Francisco
Costa
12/03/2013.
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