sexta-feira, 28 de junho de 2013

Os que penetram em mim
pelas portas dos meus versos,
pelas formas e cores dos meus quadros,
imaginam que de todos os meus sentimentos
fulgura em destaque e com pompa o amor.

Cruel engano. Amo de amor desmedido
a minha pátria vilipendiada, vendida, explorada
como uma prostituta de corpo exposto nas ruas.

Amo, de amor tão grande ou maior, a minha gente,
toda a gente que se espalha, anônima ou pública,
na arena das sensações e necessidades, na vida.

Gente rica, infeliz porque prisioneira de objetos,
impedida de movimentos pelos grilhões da fortuna,
contando o tempo como moedas, monetariamente,
até ser enterrado num cofre de madeira,
sem ter aprendido, ou pelo menos desconfiado
que o amor é gratuito e avesso aos códigos do comércio.

Gente pobre debulhando necessidades e angústias,
garimpando safras nulas, colhendo carências,
como um caramujo que nunca teve concha e procura.

Gente miserável, que não debulha nem garimpa
porque sabe, desde o berço, a inutilidade de existir,
como planta intrusa num deserto só de areia, seca,
anônima, imprópria ao florescimento, palha verde.

Amo as florestas em holocausto às motosserras,
correntes, machados, tratores mastigando a flora,
fazendo ausência a fauna errante em busca da morte.

De paixão infinita amo tudo o que se esconde aos olhos
e se anuncia desconfiança, necessidade de saber,
o que se esconde em rótulos: ciência, arte, filosofia...
Toda a matéria prima com que edifico a minha poesia.

Esse o meu amor, limitado, parcial, em pedaços, retalhos
porque de realização castrada, amputada, interdita...
Como sol parco e miúdo intercalando temporais.

Os que penetram em mim
pelas portas dos meus versos,
pelas formas e cores dos meus quadros,
imaginam que de todos os meus sentimentos,
fulgura com pompa e destaque o amor.

Cruel engano, entre o amor e a comunhão,
reina, absoluta e determinante, a indignação.

Francisco Costa
Rio, 15/04/2013.




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