sexta-feira, 28 de junho de 2013

OS PERFUMISTAS

(Aos que chiam dos meus poemas políticos)

Pedem-me mais lirismo,
Versinhos politicamente corretos,
Bem comportados, palatáveis.

Está bem. Postarei fotos de gatinhos,
Agradecimentos por graça alcançada,
Versículos, florzinhas, dizeres ridículos,
Coraçõezinhos multicoloridos, mensagens
De otimismo e fé, cantando musas,
Falando das minhas dores de cotovelos,
Frustrações, brochadas, gols perdidos.

Colocarei a máscara de sorridente,
E pertinente e entrosado,
Devidamente pronto para o sistema,
Não reclamarei de mais nada,
Imune e alheio aos pingentes da vida,
Entregando o caso a Deus.

Ah! Sim. E escreverei poemas curtos,
De poucos versos, para não cansar o leitor.
Poesia deve ser hora de recreio, alegria
E não filosofia, matéria de reflexão.

Vou modificar a minha página,
Lotar de flores e borboletas.

Afinal, pensar é para uns poucos,
E eu sou só um poeta.
Aos que pensam cabe denunciar a bosta.
Aos poetas, que a camuflem e perfumem.

Ou que finjam que não existe.
Mas como, se tenho nariz?

Francisco Costa

Rio, 26/06/2013.

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