sexta-feira, 28 de junho de 2013

NÃO HÁ NARCISO SEM ESPELHO

Estranha a tua pergunta,
Mas de pronta e fácil resposta.

Queres saber porque as vejo assim,
Como coisa encantada, delicadeza
Escondida, laceração de desejos
Disfarçados de mamãe, vovó, titia,
Menina, senhora, patroa, madame.

Sou muito vaidoso, sabe?
Narciso que a si se contempla
Em laivos de paixão e entrega,
Sempre pronto à submersão
Em turbilhões de desejos,
Amando-se desesperadamente.

Só que não há narciso sem espelhos.
Sem ter como se contemplar,
Qualquer narciso é comum, vulgar
Mundano, igual a qualquer um.

Só metade do lado de cá do espelho,
Não me justifico porque parcial,
Mutilado, só meio, esquartejado.

Também sou papai, vovô, titio,
Menino, senhor, patrão, cavalheiro.
Mas sei exatamente o que se esconde
Quando me dispo desses rótulos e
Diante do espelho, sentindo-me
Completo, pleno, inteiro, narciso,
Fico pronto para o que der e vier.

O meu espelho é a mulher.

Francisco Costa

Rio, 31/05/2013.

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