Senhor,
mantenha-me intacto,
Imune aos
procedimentos do mundo,
Equívocos
postados na realidade.
Livrai-me da
frigidez da alma,
Maior e mais
cruel que a frigidez feminina,
Fazendo-me
imune aos apelos do que me sustenta,
Refratário
ao que os meus sentidos me apontam.
Livrai-me da
impotência da alma, a nos fazer pequenos,
Impróprios
às doações e partilhas, como corpos gastos,
Em si
contidos porque incapazes de acesso a outros.
Livrai-me da
miséria, do último estágio da penúria,
Quando só
nos resta o dinheiro e bens materiais,
Iludindo-nos
que em prosperidade e futuro.
Livrai-me
dos fúteis, que se anexam ao transitório
E se fazem
essência do não permanente, do ilusório,
E dos
prepotentes de todos os matizes e credos:
Dos
poderosos, vermes em espelhos enganosos,
Refletindo a
impossibilidade de deter a história;
Dos
sensuais, fazendo dos acessórios as suas essências;
Dos
fanáticos religiosos, donos de verdade postas
Em livros e
verbos de autoria de semelhantes meus
Que se
acreditaram cúmplices e porta-vozes de Deus,
Decifrados a
Sua essência, natureza, propósitos,
Vontades,
intenções, desejos... Repetindo meu filho
Sem saber
que eu sou o papai noel. Perdoai a inocência.
Por fim,
Senhor, fazei de mim o que fui um dia,
Despido de
princípios, normas, leis, postulados,
Versículos,
livros, tratados, teses, enunciados...
Reduzindo-me
a partícula Vossa, não corrompida,
Para que eu
possa iniciar um poema afirmando
Em primeiro
verso: Senhor, mantenha-me intacto.
Francisco
Costa
Rio,
08/06/2013.
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