quinta-feira, 20 de junho de 2013

COISAS DE SÁBADO COM CHUVA

Certamente passas por ocasiões de sonhos,
Quando, doce, imaginas um mundo melhor,
De partilhas e comunhões, entregas, doações,
Onde cada um tenha o que precisa, necessita,
E dê o que disponha, sem que fique com menos.

Em ocasiões outras, salgado, amargo, ácido,
Imaginas turbas em avalanche, demolindo,
Não permitindo pedra sobre pedra, agredindo
O que impede os risos francos, a saciedade,
Tudo o que alimenta a felicidade, essa musa
Arredia e que só se insinua, te convoca a tê-la.

E paras por aí, na omissão do só sonhos.
As passeatas e manifestações, assistes na tevê,
Dos discursos tens conhecimento indireto,
A bandeira que desfraldarias ainda não é tua,
A tua parcela na conta ainda não tem algarismos
E isso atrapalha e desfalca o total, o resultado.

Talvez esperas que deuses e potestades caiam
De paraquedas sobre os nossos tormentos
E os delete, invalidem, bloqueiem, tornem nulos,
Como se os problemas plantados pelos homens
Não pudessem ser colhidos só por homens.

Na tua vida cabe a novela e o futebol, a igreja.
Cabe orgasmos e beijos, como também cabe
As festas, as danças e até as fofocas e intrigas.
Mas permanece um espaço vazio, oco, de nada.

Tuas relações familiares são bonitas, de carícias,
Partilhas, entregas, reciprocidades de gestos...
Mas és humano, parte de uma família muito maior.
O maior equívoco de todos nós é o pensamento
De que cada família termina no muro.

Muros delimitam territórios,
Apartam animais domésticos,
Preservam intimidades.

Homens são maiores que muros. Aprenda a saltá-los.
É nas ruas que estão os outros membros da família,
Em protestos e exigências, passeatas e discursos,
Exigindo a presença da musa única, de todos nós,
A felicidade subtraída.

Francisco Costa

Rio, 15/06/2013.

Um comentário:

  1. Passando por aqui ,me encantei amigo !!! Voltarei sempre para me deliciar nesse paraiso . Parabéns!!!

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