SURUBOU TUDO

Vou aos grupos de poetas.

Quero curtir, comentar,

Postar os meus delitos escritos,

Mas – ó dificuldade! Falta espaço.

Em meio a poemas ocasionais,

Receitas de bolos, quindins e quejandos,

Um testemunho por graça alcançada,

Versículos tortos, fora de contexto,

Imagens de santinhos católicos,

Músicas de sertanejo universitário

(e que se formem logo,

Para exercerem a profissão na pqp),

Receitas anti rugas, anti cravos,

Anti espinhas, anti, anti, anti...

Menos anti puerilidade e superficialidade.

Procuro espaço, mas são tantas flores,

Barquinhos, crianças, mulher pelada

Ilustrando o nada... Narcísicas fotos pessoais,

A dos gatinhos de estimação, dos cãezinhos,

Bebês, manifestações políticas não poemizadas,

E mais tudo o que pode ser postado.

E não sei mais onde postar meus poemas,

Se nos altares e púlpitos religiosos,

Nos intervalos dos cursos de culinária,

Se no salão de beleza ou show sertanejo.

E ainda me marcam em fotos

Que estão para a poesia

Como as lagartixas estão para marte,

Quando não fazem um punhado de desenhos

Loucos, despropositados, nos comentários,

O que só não é pior que a clássica e comum

Avaliação literária: “Jesus te ama”.

E as justificativas? Ah! As justificativas:

Indo almoçar, daqui a pouco volto;

Saindo para as compras; meu gato morreu;

Meu marido teve sonhos eróticos

Por isso demorei a entrar; amanhã eu volto;

O que, por profundas e fundamentais,

Irrelevam tudo o mais, avexando pensadores.

Existe um lugar pra isso, chama-se feed,

Também conhecido como primeira página.

É lá que devem ser lançadas as preciosidades

Não versificadas, a prosa não literária.

Lá posta-se a cara do ladrão da ocasião,

Os ícones e fetiches com mandato eletivo,

Os conselhos de auto ajuda, borboletinhas,

Versículos bíblicos, sertanejo e gospel,

Publicidade de carros, bancos e shoppings...

(já me ofereceram empréstimo pessoal

Em comentário a poema, afffff, agiota sensível),

Dicas de como emagrecer e ser feliz,

Fotos de si mesmo na praia, louvações ao Papa,

Debates políticos, denúncias... E até paquera-se,

Azara-se, dá-se xavecos, assedia-se...

O que também é permitido nos grupos,

Desde que feito de maneira artística, com poesia.

Já não sei se os grupos de poetas

Devem manter a classificação

Ou passarem à categoria

De bulling ou pegadinha.

Francisco Costa

Rio, 31/07/2013.