(Para
Patrícia Mendonça, uma peregrina;
Para José Gustavo Gonçalves, um sacerdote,
Meus amigos)
Sabe, amigo,
tenho um pé atrás com líderes religiosos,
Aquele papo
de Marx de que a religião é o ópio do povo.
A vida, a
militância, me mostraram que é uma verdade.
Assim, te
recebi com um pé atrás, desconfiado.
Para piorar,
quando te soube Jesuíta, danou tudo.
Tenho essa
ordem como a mais reacionária da Igreja,
A direitona
da Inquisição e da catequese dos índios,
Embora
tenhas assumido uma posição franciscana
(não
acreditei, pensei ser só marketing religioso).
Mas... E não
há nenhum constrangimento em confessar,
Fui também
arrebanhado, senão para teu rebanho de fiéis,
Para o de
admiradores, dos que te respeitarão como líder.
Aquele papo
de recusar trono e ficar em cadeira simples,
De madeira,
como tantas o carpinteiro Zé, pai de Jesus,
Construiu; o
recusar a estola bordada a ouro, vermelha,
Surrupiada
dos romanos e que bem dá a ideia sociológica
De como se
formam as religiões (agora mesmo, pastores,
Em nome do
mesmo Jesus, pilham covardemente o povo);
O recusar o
anel de ouro e os sapatinhos vermelhos
(cá entre
nós, e que ninguém nos ouça: isso é coisa de gay);
E o manter
as vestes “pagãs” como as minhas e de todos,
Sob as
vestes sacerdotais, como testemunho de igualdade,
Me
antenaram, mas... Podia ser tipo, sou desconfiado.
Aí te vi
subindo as escadas do avião com a mala na mão,
Sem usar
ordenanças, como determina o protocolo,
A não se
negar a responder às perguntas dos jornalistas,
A bordo, com
o bom humor dos simples mortais, como eu,
Sem a
pretensa santidade dos que pedem dinheiro na tevê
E dos que o
antecederam, em poses de o próprio Jesus.
E tudo foi
motivo de brincadeira nos teus pronunciamentos,
Até a velha
rivalidade de brasileiros e argentinos, como tu.
Só que
brincando, usando o discurso da juventude,
Desautorizaste
os corruptos, e mais, concitou à reação,
Ao não
acomodamento dos pretensamente salvos
(é verdade,
“o meu reino não é desse mundo”),
Apontando no
capitalismo uma fera tão vil e covarde
Quanto o
stalinismo, as ditaduras militares, o nazismo.
Com a autoridade
de comandante a afirmação maior,
A de que a
Igreja não é uma ONG, e que lugar de fiel
É nas ruas,
protestando, exigindo os seus direitos.
Com a
autoridade de estadista, foste ecumênico,
Já que se só
um Deus, um só rebanho, um só povo de Deus.
Isso é ser
democrata, divinamente democrata. Que lição!
Teu sorriso
constante nos semeou de esperanças
Porque
ancorado em palavras sábias e necessárias
Nesse
momento de coisificação do ser humano
E
divinização das coisas, meros objetos de consumo,
E aqui te
repito, quase literalmente.
Longe de
mim, querer acrescentar à tua sabedoria,
Pois sei que
sabes o significado de Francisco,
Palavra de
origem sânscrita que quer dizer
“aquele que
é livre”, “aquele que nasceu livre”, e,
Por adoção
do nome, tu o dignificas e reitera o sentido.
Bem vindo ao
clube dos Chicos: de Paula, de Pádua,
De Assis...
E em nome da divindade a que tão bem serves,
Abençoa a
esse Chico menor que aprendeu a te admirar.
Prometo que,
se a minha intransigência religiosa continua,
Cobrando que
seja só material o que não é divino,
A minha
coerência política rende culto ao líder cristão.
Vai com
Deus, hermano. Retorne. Serás sempre oportuno,
Diria mesmo
necessário, uma gotinha de mel nesse mar de fel.
Francisco
Costa
Rio,
29/07/2013.
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