Sou de um
tempo em que as floreiras
Eram permanência
de cores nas sacadas
E canções de
amor escorriam nas calçadas.
Não havia
tiroteios, senão nos filmes,
E nenhum
cadáver era anônimo,
Porque pranteado
por todos.
Tempo de
namoradas pudicas e risonhas,
Guardando segredos
e a própria virgindade
Em doações
parciais e cuidadosas.
O anoitecer
encontrava cadeiras nos portões,
Antes da
novela no rádio, maridos e pais
Discutindo o
providencial passe para o gol,
Determinando
posições políticas, radicais,
com postura
firme, conhecedora, determinada.
Não havia
shoppings nem televisão, internet,
De maneira
que as relações eram diretas,
Corpo a
corpo, olhos nos olhos, hálitos recíprocos.
Agora cada
homem está tão isolado em si
Que precisa
de pontes tecnológicas,
Artefatos descartáveis,
atitudes urgentes,
Decisões imediatas,
para que se saiba não morto.
Sou de um
tempo em que os sorrisos eram francos,
As lágrimas,
sinceras, e beijos eram artigos caros,
Comprados com
uma estranha moeda
Que guardávamos
num estranho cofre
Chamado coração.
Sou de um
tempo em que o tempo era lento,
Não corria,
andava ao sabor do vento.
Tempos idos,
os de outrora.
Tempos feridos,
os de agora.
Francisco
Costa.
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