segunda-feira, 20 de maio de 2013

VERSOS QUE NÃO ESTÃO


                    Cá não estão
os meus melhores versos.

Eles ficaram com as moças mortas
que fui deixando pelos intransitáveis
caminhos das lembranças.

Outros, silenciosos e resignados
perderam-se em dúvidas de amor
quando, entre a caneta e o sono
dormi rememorando momentos.

Alguns envelheceram em gavetas
e soam sobrenaturais aos meus olhos
já mais amadurecidos, ambicionando
novas matérias desconhecidas ao tato.

Muitos não foram, natimorreram
em salas de aulas e auditórios
comigo perdido em verdades outras
dissecando mitocôndrias e cloroplastos.

Alguns me soaram plágios infames
outros se apoiaram nos andaimes
da inspiração alheia, mancharam-se
de influências e lugares-comuns.

Há os que me tomaram emprestados
e se tornaram apropriações indébitas
os que esqueci sobre balcões e camas
os que morreram
em pecuniárias preocupações
apunhalados por credores.

Há ainda os muito íntimos
os que se tornaram frutos intocáveis
apodrecendo nos subterrâneos dos dias.

Alguns estão em remotos cadernos
de antigas namoradas
hoje solteironas
esperando enfarto ou casamento.

Muitos cresceram
viraram contos e novelas
perderam métrica e ritmo.

Alguns aconteceram em ônibus
chegaram em festas e filas
não me permitindo fotografias.

Todos periculosos
aguardando um descuido
para retornarem, vitoriosos
Em cascatas de poesia.

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