sábado, 18 de maio de 2013

COISAS DE MALUCOS


Se você gosta de caminhar na chuva fina
com a sensação de que a atravessa;

Se já olhou pela janela para ver estrelas
e contá-las até perder a conta,
fazendo caretas e trejeitos,
franzindo os olhos e a testa,
para alterar-lhes os brilhos
e as cores, o ritmo das cintilações;

Se já dançou sozinho na sala e, bêbado,
se imaginou flutuando sobre as árvores.

Se acredita que passear de mãos dadas
e rir por nada, braços enganchados,
chutando pedrinhas e pedaços de papel
é driblar as intempéries e evitar as lágrimas.

Se já falou sozinho, em solitário diálogo
voz alta e convicção,
em concordâncias e discordâncias,
com direito a réplicas e trépicas,
até se exaurir o assunto;

Se já consumou cruéis assassinatos,
com requintes de crueldade e ódio,
e se viu cercado de anjos invisíveis,
e comandou revoluções e motins
interrompidos por vozes no portão.

Se já aprendeu a tocar violino,
a interpretar personagens  de Shakespeare,
dançar tango, fazer mergulho autônomo,
saltar de paraquedas, falar japonês...
para esquecer tudo no minuto seguinte.

Se já fingiu acreditar em não quero,
não posso, aqui não... Com um corpo
em frenesi, se desmanchando em sua mão,
e em exercício de fingida paciência
inaugurou auroras não premeditadas,
certo de que um namoro prolongado
vale mais que um orgasmo acanhado.

Se no seu inventário de perdas e danos
quase todos os prejuízos e rombos
foram pagos com a moeda do esquecimento,
restando saldo de sorrisos no balanço.

Isso me conforta
e a a identidade me confirma:
não sou o único maluco no mundo.

Francisco Costa
Rio, 18/05/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário