Meu templo
se ostenta em estranhos ícones.
Em cada
andor uma divindade a me orientar:
Logo na
entrada, pela ordem, Pablo Neruda
Sobre uma
toalha cerzida com as águas do mar;
Adiante,
Drummond, pendurado nos óculos,
Intermédio
entre seus olhos e a poesia;
Mais além,
Pessoa, que por não se bastar
Fez-se
muitos, em pseudônimos e personalidades;
Um pouco
atrás Cecília Meireles, a santa cigana,
Ao lado de
Florbela Spanca e Cora Coralina
Abençoando
em versos o transeunte distraído.
Do outro
lado, Verlaine e Apolinaire, Rimbaud,
Como se em
conclave, editando bulas poéticas;
E vem,
sempre pela ordem, Brecht e Maiacovsky,
Uns
haikaianos budistas, alguns cordelistas,
Cantadores
de feiras, partideiros, repentistas.
No altar
mor, o principal, Gandhi, Marx e Einsten,
A
humaníssima trindade iluminando o templo
E seus fiéis
de canetas na mão, redigindo poemas,
Abaixo
assinados, manifestos, em louvores
Na forma de
cantos revolucionários.
A frequência
de fiéis é cada vez menor.
Inauguraram
um shopping ao lado.
Lá os
altares são envidraçados,
Protegendo
santos manequins
No oratório
das promoções.
Aqui a luz
rasga vitrais e ilumina consciências.
Lá a luz
nasce nos interruptores
Para
alimentar inconsciências.
Aqui o homem
se faz com idéias e sentimentos,
Lá, com
objetos e coisas.
Aqui os
homens choram.
Lá, sorriem.
De quê?
Francisco
Costa
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