terça-feira, 21 de maio de 2013

LOUCO


Sempre quis saber
O que é ser só
Ou só ser.

Então tranquei-me com tintas
E saí colorindo tudo,
dando a tudo a minha cara
em cada detalhe dos dias.

Mas eu não estava só,
continuava-me nos pincéis,
nas espátulas, nas superfícies
indagando-me os propósitos.

E decidi escrever,
Deixar-me escorrer distraído
Em forma de versos, de textos
Que logo tornaram-se anexos de mim.

E a cada vez que alguém os leu
Desnudou-me, e não me senti só.

Até que me tranquei, e livre dos homens
Estabeleci diálogos interiores, às vezes,
Ou com palavras ditas ou gritadas,
Sem testemunhos, interlocutores,
Críticos, mediadores, palpiteiros de plantão.

Afirmei-me, e me discordei ou confirmei.
Neguei e fiz a réplica, ataquei com tréplica,
Pedi aparte, complementei, discursei...

Até que me tornei uno, um só,
Desfilando a minha loucura nas tardes. 

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