segunda-feira, 20 de maio de 2013

INTERRUPÇÃO DE CASO


Nada havia que nos separasse:                                     
maridos, mulheres, filhos, parentes...
Então seguíamos cúmplices contentes,
sem rumo e sem medos, acordes
na urgência da felicidade possível.

Céleres seguíamos, gratificados e tontos,
sem mistérios e simulações, assumidos
como comparsas de mesmo destino.

Submersos num nevoeiro de desejos,
movimentávamos as horas
e interditávamos as lágrimas,
sempre prontos a novo naufrágio,
ao afogamento completo dos sentidos.

E assim, inscrevendo-nos nos dias
girávamos juntos e irreversíveis,
latejando ânsia em cada poro,
sempre prontos ao recomeço definitivo.

E então compreendemos cedo que,
animais domésticos, tínhamos donos:
maridos, mulheres, filhos, parentes...
Suplicando que nos apartássemos
e nos tornássemos despojos abandonados
tecendo saudades e recordações
entre os móveis da sala e o fogão.                      

                             II

Que tribunal nos poderá julgar?
Quem, tendo traído uma vez

           (e traímos todos,
            ainda que em pensamento),

desempenhará a sina do carrasco
e nos condenará a silêncio e remorsos,
a nos fingirmos córregos e taças,
se teremos as entranhas secas
e o olhar baço, sem retorno?

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