Nada havia que nos
separasse:
maridos, mulheres,
filhos, parentes...
Então seguíamos
cúmplices contentes,
sem rumo e sem medos,
acordes
na urgência da
felicidade possível.
Céleres seguíamos,
gratificados e tontos,
sem mistérios e
simulações, assumidos
como comparsas de
mesmo destino.
Submersos num
nevoeiro de desejos,
movimentávamos as
horas
e interditávamos as
lágrimas,
sempre prontos a novo
naufrágio,
ao afogamento
completo dos sentidos.
E assim,
inscrevendo-nos nos dias
girávamos juntos e
irreversíveis,
latejando ânsia em
cada poro,
sempre prontos ao
recomeço definitivo.
E então compreendemos
cedo que,
animais domésticos,
tínhamos donos:
maridos, mulheres,
filhos, parentes...
Suplicando que nos
apartássemos
e nos tornássemos
despojos abandonados
tecendo saudades e
recordações
entre os móveis da
sala e o fogão.
II
Que tribunal nos
poderá julgar?
Quem, tendo traído
uma vez
(e traímos todos,
ainda que em pensamento),
desempenhará a sina
do carrasco
e nos condenará a
silêncio e remorsos,
a nos fingirmos
córregos e taças,
se teremos as
entranhas secas
e o olhar baço, sem
retorno?
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