segunda-feira, 20 de maio de 2013

DESENCONTRO


                 “Muitas vezes tenho que ser duro
                   Para que as pessoas pensem
                   Que estou seguro.”
                                               (José Augusto)

Eu, artífice de encontros,
Radicalmente favorável
A permanentes safras de encontros,
Surpreendi-me de mãos vazias
E corpo desocupado, sem dono.

Operário do cotidiano,
Não trabalho os sonhos
Nem elaboro projetos
Porque apenas ideais, irreais.

Não a quero ausente, só lembrança
Porque, longe, se confunde com o nada,
Como um ponto negro na escuridão.

Antes, quero o seu corpo em minhas mãos,
Sua imagem concreta e absoluta
Refletida em minhas retinas enamoradas,
Os seus cheiros inundando-me a pele
E sua voz, crepúsculo de sonoridades,
Embalando as horas no ritmo dos seus passos.

            (flagela-me saber que somos dois
            Quando muito bem e acomodados
            Poderíamos ser apenas um,
            Como a ostra e a sua concha,
            Inseparáveis na dança das marés.)

É certo que posso pensar nela,
Mas quando penso
Mais não penso
Que os meus próprios pensamentos,
E embora eles a tenham,
Eles não são ela,
Eles não a trazem.

Quero-a, mas não lembrança apenas.
Preciso-a concreta e definitivamente presente,
Como uma flor baldia, de néctar e pólen,
Serenamente amanhecida para ser colhida.

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