segunda-feira, 20 de maio de 2013

CANÇÃO DE ESPANTO


“Te recuerdo como eras em el último otoño.”
                                                             (Pablo Neruda)

Havia em ti um que de primavera
Como orvalho sobre corolas rubras
Abrindo-se para receber as manhãs.

Rara flor posta entre flores
Sobressaías pela forma
Única e definitivamente bela
Para regalo das estrelas
E encanto dos pássaros.

Perto de ti as almas dos homens
Instituíam festas e criavam asas.

Como nas canções de Neruda, eras
Abelha amarela em dança nupcial.

Tinhas o estranho dom
De espargir luz
E elaborar cascatas de sonhos
Quando florescias
Numa solidão oceânica
Sob os céus de maio.

O que fazer, então
Para merecê-la, senão
Cultivar estas palavras
E oferecê-las, frugais
Como o mar se oferece
Ao náufrago e ao seu corpo
Entre salsugem e maresia
Num vórtice de paixão e medo?

Como, tendo preconcebido
Este delírio impreciso
Salvaguardar do êxtase
A minha integridade perdida?

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