“Há esperas
noturnas
de não se sabe que amor.” (André Gide)
Assim, sempre pela madrugada,
vão e vêm, sempre as mesmas,
em alvíssimas aparições noturnas.
Falam mansas, entre lábios,
como mero roçar de veludos,
mas não é comigo que falam.
Há, entre as mortas, um mistério
de mensageiras desconhecidas, alheias
à minha simples concepção de homem.
E me pasmo, aferrado ao sonho.
Por mais que ore ou peça, suplique,
insistem, sobrenaturais e concretas,
na fertilização do meu espanto.
São as mortas do meu passado,
as que pensei esquecidas e sós
no sepulcro da minha memória.
As que matei nas esquinas
ou abandonei na inquietação;
as que despedacei com gestos
ou deixei intactas, com medo;
as que comungaram vinganças
e as que me perderam, menino
em cio ansiando novos lençóis.
Destas, quantas experimentaram
o sal do ciúme ou geraram
o sigilo da fortaleza violada?
Quantas, exaustas, amargaram
a interrupção do momento
ou compreenderam a exatidão
da minha trajetória arbitrária?
Quantas, serenas, nasceram
dos meus olhos enamorados
ou se converteram seixos
e musgos no meu mar interior?
Quantas, quantas pela vida
e pelo mundo, quantas?
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