“Do
nada te levantas
e vais subindo,
e eu vou contigo
atento à tua fúria.”
(Ledo Ivo)
Quando, só,
Tornar ao aterro
E contemplar o museu,
As ruínas de mim,
As ruínas de nós,
Em acrílico e concreto
Displicentes e
fatigados
Meus pedaços
espreitarão
Seus gestos
vespertinos
Emoldurados na tarde.
E se lembrará, tarde
Dos temas de novelas
Assoviados em surdina
Cadenciando nossos
passos
De seres alheios e
mudos
Em comunhão de
delírios.
(não éramos humanos,
Ignorávamos as horas
E a semântica dos
compromissos)
Súbito perco o meu
corpo
E sou esse museu, esse
mar
Essas palmeiras se
alimentando
De sons urbanos e
cores
Encarceradas nos
letreiros.
Há em mim um comboio
De sensações
descarriladas,
Um vendaval de sombras
Um anjo cruel
carregando
A minha displicência
perdida.
E choro e me amo e
morro
Numa tecitura de
meticulosas
Pétalas ornamentando o
vazio.
Por onde andará Grega?
Em que tema insonhado
Em que verbete perdido
Em que galáxia
distante?
Mas, ei-la!
Lá vem ela, desarmada
No esplendor de
outubro,
Humilhando as nuvens
Na sua leveza de garça
Infensa ao cotidiano
De sacrifícios e
doações.
Ei-la, de lábios
crispados
E gestos
desconcertados
Aguardando a hora
última,
Definitiva e
embriagadora
Como um verso interrompido
Num bilhete de
suicida.
Ei-la, chovendo
Purpurina e sal
na minha saudade.
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